Entrevistado na edição especial de um ano do programa “Direto ao Ponto”, da Jovem Pan, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que a facada recebida em Juiz de Fora (MG), em setembro de 2018, durante a campanha eleitoral para a Presidência da República, foi planejada. O mandatário do país também criticou quem acredita que houve uma encenação do atentado sofrido há pouco mais de três anos. “Eu teria que ter enganado todos os médicos da Santa Casa de Juiz de Fora e, depois, os médicos do Einstein. Qual é a reputação dessas entidades? Eu fiz quatro cirurgias, perdi 15 quilos, 10 centímetros do intestino, fiquei com a bolsa de colostomia”, diz. O chefe do Executivo federal também aposta que o procurador-geral da República, Augusto Aras, irá arquivar o relatório da CPI da Covid-19, que está sendo elaborado pelo senador Renan Calheiros (MDB-AL). Como a Jovem Pan mostrou, a comissão irá propor o indiciamento de Bolsonaro por alguns crimes, entre eles o de prevaricação. “Vem pesado o relatório, mas não posso admitir certas acusações. Vai passar pelo Ministério Público, acho que a tendência é arquivar”, avaliou.
Para o presidente da República, a CPI da Covid-19 tem o objetivo político de desgastar o seu governo. “Isso é um circo, não interfiro nas decisões do Augusto Aras, mas ele sabe o que está acontecendo. O Aziz, o Renan e o Randolfe são pessoas que não têm credibilidade nenhuma. Geralmente, as CPIs visam atingir alguém politicamente ou achacar certas pessoas, assim são as CPIs no Parlamento. O objetivo é esse, é luta pelo poder e buscar aquela cadeira”, diz. Questionado sobre as eleições presidenciais do ano que vem, Bolsonaro afirma que a tendência é que o segundo turno seja disputado entre ele o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). De acordo com as pesquisas eleitorais, se o pleito ocorresse hoje, o petista seria vencedor. “O Lula tem voto, mas não é isso que estão colocando. Ele não consegue tomar uma Itubaína na esquina em qualquer lugar que vai ser escrachado. Ele não consegue andar por lugar nenhum do Brasil. Se tiver debate e eu vier a ser candidato, vai ser um prazer debater com ele”, diz o mandatário do país.
Ainda sobre as articulações eleitorais, Bolsonaro admite que o vice-presidente Hamilton Mourão não deve compor sua chapa em 2022. “O Mourão não está fora, mas também não está confirmado. Muitos dizem que o melhor é que o vice seja de Minas Gerais ou Nordeste, mas além disso tem que agregar. Tem que ser um cara que não tem uma ambição da cadeira porque não existe impeachment sem povo e sem vice. Então essa preocupação existe. Hoje tenho algumas pessoas no radar, mesmo sabendo que eu sou um cara difícil. O próprio Mourão disse que não tem muito jeito para a política”, afirma ao “Direto ao Ponto”, da Jovem Pan.
No início da entrevista, o presidente também revelou que dois governadores aliados ao Palácio do Planalto – Antonio Denarium, de Roraima, e Marcos Rocha, de Rondônia – irão zerar o imposto estadual do botijão de gás. A ideia, de acordo com Bolsonaro, é diminuir o preço do utensílio doméstico “na ponta da linha”. “Nós zeramos os impostos federais do gás de cozinha. Custa R$ 50 o botijão quando sai da Petrobras. Chega a quase R$ 130 no final da linha. O que encarece? Eu converso com os governadores de Rondônia e Roraima. Eles devem zerar o imposto estadual, o ICMS do gás. O gás vai chegar lá um pouco acima de R$ 50, porque é mais longe um pouquinho de onde é envazado, mas, a partir daquele momento, não tem o imposto federal e estadual. O preço será composto pelo frete e pela margem de lucro do cara que está no balcão lá na ponta da linha”, adiantou. Ainda segundo o presidente, o governo estuda incluir a possibilidade de beneficiários do Bolsa Família receberEm um botijão a cada dois meses. “Está em estudo bastante avançado”, resumiu.
Reunião com Temer e ataques a Moraes
Sem dar detalhes, Bolsonaro disse que conversou “umas cinco vezes” com o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), desde o dia 7 de setembro. Há três semanas, em um discurso a apoiadores na Avenida Paulista, em São Paulo, o magistrado foi chamado de “canalha” pelo chefe do Executivo federal. Dois dias depois, em uma carta à nação, o presidente disse que não quis agredir nenhum Poder. Na entrevista ao Direto ao Ponto, o mandatário do país contou como foi elaborado o documento. “No dia seguinte [ao 7 de setembro], o ministro Fux fez um pronunciamento pesado contra mim. Muitos disseram: rebate, contra-ataca, dá resposta. E eu dizia ‘vou responder amanhã, calma’. Eu aprendi a digerir as coisas. Nesse ínterim, houve contato com o presidente Temer. Ele não quis passar por telefone a proposta dele, então, veio para cá. Trouxe uma proposta, eu juntei com o que falaria, fizemos um pequeno acerto, a proposta dele estava boa, a minha também. Foi uma fusão, saiu aquela nota. Muita gente, em um primeiro momento, não entendeu. Como ficaria o Brasil perante o mundo [se houvesse golpe de Estado]?
Como ficam as possíveis barreiras comerciais? Ficaríamos em uma situação complicada”, explicou.