Um grupo de pesquisadores da Universidade de São Paulo concluíram o primeiro sequenciamento genético da varíola dos macacos no Brasil e agora cultivam linhagens celulares do agente causador da doença.
De acordo com a Agência Fapesp, o objetivo dos cientistas é distribuir amostras para laboratórios públicos e privados de todo o país, que poderão ser usadas tanto em testes diagnósticos como em pesquisas voltadas a entender a evolução viral e a desenvolver novos tratamentos e vacinas.
O trabalho é conduzido pelo Laboratório de Virologia (LIM52) do Instituto de Medicina Tropical (IMT-USP) e coordenado pela virologista Lucy dos Santos Vilas Boas.
“Recebemos a amostra clínica do primeiro paciente diagnosticado no país e a inoculamos em uma cultura de células vero [linhagem oriunda de rim de macaco e usada como modelo para pesquisas com vírus]. Após 24 horas, já era possível observar alterações morfológicas nas células que são típicas do monkeypox. A confirmação foi feita por RT-PCR”, conta Vilas Boas.
Com o sequenciamento foi possível criar um teste RT-PCR específico para o MPXV pelo Hospital Israelita Albert Einstein.
Após a confirmação de que o vírus que se multiplicava nas células vero era de fato o causador da varíola dos macacos, os passos seguintes foram extraí-lo do meio de cultura e inativá-lo para ser enviado com segurança a outros centros, explica Vilas Boas.
Segundo o pesquisador, apesar dos avanços, a escassez de reagentes específicos para o MPXV no país ainda é um grande gargalo para que possa ser feita a testagem em massa da população, caso ela venha a ser necessária.
Laboratórios equipados com infraestrutura de biossegurança estão recebendo amostras do IMT-USP. “Nossa função vai ser cultivar o vírus em uma escala maior e dentro de duas ou três semanas começar a distribuir alíquotas para laboratórios de todo o país. Isso será possível graças a um acordo que fizemos no início da pandemia de COVID-19 com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações [MCTI] e com os Correios. A empresa faz o transporte especializado das amostras. Retiram aqui e levam até a porta dos destinatários”, conta o professor Edison Luiz Durigon.
Duringon ressalta que o trabalho só foi possível porque o laboratório já contava com os recursos materiais e humanos necessários. “Eu já tinha pessoal treinado, que foram bolsistas de doutorado e de mestrado da FAPESP. Se partíssemos do zero, levaria pelo menos um ano para começar a funcionar. É preciso haver uma estrutura montada e financiamento contínuo para que se possa dar uma resposta rápida a agravos de saúde pública, como uma pandemia.”
Agora, além de cultivar o MPXV em larga escala, o grupo de Durigon também fará o sequenciamento de algumas amostras para verificar se há diferenças em relação ao vírus inicialmente isolado no país.
FONTE: BAHIA NOTICIAS