Em passagem pela COP26 que provocou aglomeração recorde nos corredores e lotou um dos maiores auditórios, o ex-presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse na tarde desta segunda-feira (8) que espera que o Brasil, a China, a Índia, a Rússia e a Indonésia liderem o combate à crise climática.
O presidente citou a atuação política como a primeira forma pela qual cada jovem pode, individualmente, contribuir para o clima. “Vote como se sua vida dependesse disso. Não adote uma postura cínica com a política. Não teremos intervenções pelo clima vindas dos governantes se eles não sentirem a pressão dos eleitores.”
Segundo o ex-presidente, esse era um conselho que sempre ouvia de sua mãe quando, adolescente, se revoltava com algo: “Mãos à obra, mexa-se, envolva-se e mude o que precisa ser mudado”.
Obama também sugeriu que o público faça pressão sobre as empresas, deixando de comprar das que desrespeitam o ambiente ou não atuam para preservá-lo, e sugeriu aos ativistas que não se isolem dentro de uma bolha.
“Não adianta pregar aos convertidos nem só se juntar aos que já acreditam na crise do clima. É preciso ouvir os resistentes, entender suas preocupações e encontrar as formas de que eles sejam menos atingidos pelas mudanças necessárias”, disse o político americano.
Ele também afirmou aos mais jovens que se preparem para uma maratona, porque o progresso será lento e confuso. “Instituições políticas se movem devagar, mesmo quando há boas intenções; empresários olham o lucro no curto prazo; cooperação internacional sempre foi difícil e piorou com a desinformação online.”
No discurso, iniciado com uma brincadeira por poder voltar a uma COP sem gravata, mas obrigado a pegar trânsito, Obama criticou o ex-presidente Donald Trump, por desmontar políticas pró-clima de sua administração, e os governos da China e da Rússia, por falharem em apresentar metas mais ambiciosas de redução de emissões de gases de efeito estufa, que causam o aquecimento global.
Segundo ele, vários países fracassaram nos compromissos assumidos em 2015, no Acordo de Paris. “Paris foi um começo, não o fim. Era para melhorarmos nossas promessas a cada ano”, afirmou ele.
Sob o governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o Brasil foi um dos países que recuou em suas ações ambientais: o desmatamento cresceu nestes seis anos, estruturas de fiscalização foram desmontadas e, no ano passado, a meta de redução de emissões foi reduzida, em vez de ampliada.
Nesta COP26, a delegação brasileira revisou sua meta, deixando, porém, a quantidade de gás poluente a ser cortada equivalente à prometida em 2015, ou seja, sem a ambição esperada.
Segundo Obama, o mundo hoje atravessa um período de tensão geopolítica maior que a de 2015, por causa da pandemia, do nacionalismo, da falta de liderança dos EUA sob Trump e do recuo do multilateralismo.
“O clima, porém, precisa transcender tudo isso. Não podemos nos dar ao luxo de recuar. Não podemos nos dar ao luxo nem de ficar onde estamos. Temos que avançar e tem que ser agora”, disse ele.
Segundo o ex-presidente, nos momentos em que sente desânimo e “imagens distópicas começam a aparecer nos sonhos”, ele se lembra que “o cinismo é o recurso dos covardes”.
“O combate à crise climática não se trata só de números e ciência, mas de política, cultura, moralidade e trabalho conjunto”, afirmou.
Antes do discurso, Obama já havia conversado com um grupo de jovens ativistas, que cobraram dele o fracasso dos Estados Unidos em cumprir sua promessa de financiar a transição climática nos países menos desenvolvidos –algo que ele defendeu como necessário mais tarde na palestra.
“Assim como o Obama fez, o Brasil também está fazendo, que é prometer para outros governos fazerem”, disse após esse encontro a ativista brasileira Txai Suruí, 24, que discursou para líderes na abertura da COP26.
“O que a gente estava dizendo é: mostrem o dinheiro, mostrem onde está o recurso. Parem de só fazer promessas e comecem a cumprir com essas promessas.”
Para Txai, “é muito contraditório o Obama vir falar para os jovens, quando antes disso éramos nós que estávamos falando para ele que não aceitamos mais falsas promessas”.
Ela avalia que os EUA são os principais atores da crise climática: “Eles têm que ter responsabilidade. E é a gente que está mandando a mensagem para ele, não é ele que vai ensinar nada para a gente, não”.
No final da tarde, o ex-presidente americano se encontraria com mais lideranças jovens. “Ao trabalho”, disse, ao encerrar sua fala.
Fonte: Bahia Noticias